Belém recebe Arreia, espetáculo de dança-ritual das irmãs pernambucanas Iara Campos e Íris Campos
- blognewschristian
- 17 de out.
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Belém recebe Arreia, espetáculo de dança-ritual criado pelas irmãs pernambucanas Iara Campos e Íris Campos, que desde a estreia tem sido reconhecido como uma obra de resistência ancestral e corpo sonoro para narrativas indígenas e populares. Incentivo do Fundo de Cultura do Estado de Pernambuco, o Funcultura.
A programação traz oficina, no dia 21 de outubro, e apresentações nos dias 22, no Teatro do Curro Velho e, dia 23 de outubro, na Escola Municipal EMEC Sebastião dos Santos Quaresma, na Ilha do Combu.

Com direção de criação assinada por Paulinho 7 Flexas, figura histórica do Caboclinho 7 Flexas do Recife, o projeto convida o público a habitar um espaço sensível entre sonho, memória e ritualidade. O espetáculo tem como matriz estética o universo do Caboclinho, manifestação popular nordestina que reúne saberes e religiosidades indígenas, com fundamento na Jurema Sagrada e rituais afro-brasileiros.
O Caboclinho 7 Flexas, agremiação à qual Iara e Íris pertencem, foi fundado por Mestre Zé Alfaiate, e sua origem está ligada a um sonho: segundo relatos, o Caboclo apareceu ao mestre pedindo que ele criasse o brinquedo em sua homenagem, como agradecimento por uma graça alcançada. Esse sonho-origem atravessa toda a poética de Arreia.
O processo criativo de Arreia foi intenso e profundamente espiritual. Durante a pandemia, Iara e Íris voltaram a morar juntas, e a ideia, antiga em seus desejos, foi encarada como um projeto de afirmação identitária. Elas contam que o espetáculo emergiu da delicadeza dos sopros, da vivência ritualística, dos banhos, da fumaça, da natureza e do diálogo com a cosmologia indígena — os três planos do mundo (inferior, médio e superior) — e da escuta às vozes do encanto e dos sonhos.
“Arreia é um desejo antigo e sua criação nos chegou como um sopro do Encanto. Fomos contempladas com um edital emergencial no nosso Estado e criamos a vídeo performance que está disponível no youtube. Só com a reabertura dos espaços, depois da primeira dose da vacina foi que Arreia encontrou a possibilidade de acontecer na presença, diante do público”, conta Íris Campos.

“A criação aconteceu de uma forma totalmente diferente do que já tínhamos experimentado em 20 anos de dança. Criamos nossos rituais para ensaiar, pedimos permissão à espiritualidade e ancestralidade para falar de quem veio antes e nossa casa respondeu florindo o pé de Liamba, que antes estava doente, a touceira de colônia começou a dar flores, nasciam pés de alfavaca (planta sagrada) por todos os lados do nosso quintal. Entendemos que os encantados estavam conosco nesse processo criativo”, relembra Iara.
Arreia transita entre o mítico e o contemporâneo
Enquanto invoca ancestralidades, também propõe olhares críticos para as violências sofridas pelos povos originários no Nordeste e para a persistência de apagamentos culturais. As irmãs afirmam que o corpo brincador, o corpo que dança e que dialoga com o ritual, se torna uma ferramenta para reconstruir narrativas apagadas e inaugurar um novo lugar de escuta para o público.
Desde sua temporada em Recife (com apresentações na sede do Caboclinho 7 Flexas), passando por itinerâncias pelo interior pernambucano, Arreia suscita encontros com plateias diversas e abre espaços de diálogo (bate-papos, oficinas) com comunidades locais.

Arreia cumpriu recentemente uma temporada de 8 apresentações em São Paulo, no Centro Cultural Fiesp e agora chega por aqui, Norte do Brasil, com o incentivo do Fundo de Cultura do Estado de Pernambuco, o Funcultura. A turnê inicia por Porto Velho, Rondônia e chega até Belém.
Em Belém, sua passagem será marcada por uma presença que ultrapassa o palco: o espetáculo será acompanhado por uma oficina de Caboclinho, aberta ao público, para que os participantes possam experienciar os gestos, os toques e os ritos do brinquedo. É uma oportunidade de tocar, dançar e dialogar a partir de um corpo em ritual.
A temporada pretende inaugurar novos sentidos no diálogo com as culturas amazônicas: que os gestos circulares, as vozes do sonho e as respirações ancestrais encontrem ressonância na terra paraense, nas memórias indígenas amazônicas e nas comunidades ribeirinhas.
21/10 (terça-feira) – Oficina de Caboclinho, das 14h às 17h, gratuita, no Teatro do Curro Velho.
22/10 (quarta-feira) – Espetáculo Arreia, às 19h, gratuito, no Teatro do Curro Velho.
23/10 (quinta-feira) – Apresentação especial às 11h, na EMEC Sebastião dos Santos Quaresma, na Ilha do Combu.


















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