Circuito Maré Lançante transforma o bairro do Jurunas em museu vivo da Amazônia urbana
- blognewschristian
- 23 de jul.
- 3 min de leitura
O Museu D’Água apresenta o Circuito Maré Lançante, uma exposição itinerante e interativa que percorre, ao longo de quatro semanas, o bairro do Jurunas, na periferia de Belém. A iniciativa transforma ruas, casas e espaços de convivência do territórios em verdadeiros "cantinhos da memória": espaços afetivos e vivos onde as histórias dos moradores são o centro da narrativa.

A proposta da exposição vai além da contemplação: é uma plataforma de escuta e diálogo sobre pertencimento, meio ambiente e mudanças climáticas no contexto da Amazônia urbana. A programação começa com uma mobilização comunitária nesta quinta-feira (24), seguida da vernissage de abertura na sexta-feira (25), no Gueto Hub, marco oficial do início do circuito.
“Essa exposição é uma forma de garantir que os moradores não apenas conheçam melhor a história do bairro, mas também se reconheçam nela. É sobre lembrar que o Jurunas é feito de gente, de histórias, de luta e de beleza”, afirma Ruth Ferreira, moradora do Jurunas, ativista e historiadora, uma das curadoras do projeto.
Exposição feita com e para o bairro
O Circuito Maré Lançante nasceu da vontade de valorizar o território a partir das próprias vozes de quem o habita. A curadora e museóloga Tamires Pinheiro, também moradora do bairro, explica que a escolha do Jurunas não foi apenas geográfica, mas afetiva e política.

“O Museu D’Água nasceu com o propósito de salvaguardar e dar visibilidade à memória viva do Jurunas. É um bairro historicamente marcado por resistências, saberes e memórias que muitas vezes foram invisibilizadas”, diz.
A construção conjunta com a comunidade guiou todas as etapas da criação da exposição. A equipe do museu é composta inteiramente por jovens do próprio bairro, que atuam como pesquisadores, mediadores e articuladores.
A exposição foi pensada desde o início com participação direta da comunidade. Voluntários locais passaram por formações em mediação e comunicação, enquanto as histórias que compõem os “cantinhos da memória” foram coletadas a partir de visitas, entrevistas e escutas sensíveis feitas porta a porta.
Os ‘cantinhos da memória’
Cada parada do circuito revela um "cantinho da memória" — espaços criados com objetos, relatos e imagens cedidos por moradores do Jurunas. São fotografias, santos, plantas, fantasias, bolas de futebol e até jornais antigos que compõem os miniacervos.
“Um dos elementos centrais da experiência é o uso de telefones antigos. Ao levantar o fone, o visitante escuta as entrevistas gravadas com os moradores, ouvindo suas vozes e emoções como se estivesse conversando diretamente com eles”, detalha Tamires.
Esses espaços não apenas expõem, mas convidam à presença, à escuta e à reflexão. Totens com foto, nome e mini-biografias dos protagonistas aproximam ainda mais o visitante da trajetória de quem compartilha sua história.
Narrativas revelam o cotidiano e a luta
As histórias reunidas nos “cantinhos” são múltiplas e profundas: lutas por moradia, espiritualidade afro-amazônica, cotidiano de festas e futebol, comunicação popular, memória de cheias, racismo ambiental, entre outras.
“São memórias que vêm dos quintais, dos terreiros, das ocupações urbanas. Ao compartilhar essas experiências, mostramos que o saber popular é também patrimônio e que as soluções para os problemas urbanos passam por escutar quem vive esses territórios”, ressalta Tamires.
Justiça climática a partir da memória
Ao colocar as vozes da periferia amazônica no centro da narrativa, o Circuito Maré Lançante contribui ativamente com o debate sobre justiça climática. A exposição trata de impactos como alagamentos, destruição de áreas verdes, saneamento precário e remoções forçadas — tudo a partir das vivências dos moradores.
“A crise climática não é só ambiental. Ela é social, afetiva e desigual. Ao ouvir as pessoas que vivem esses impactos diariamente, construímos uma memória coletiva que denuncia e propõe, que emociona e mobiliza”, pontua Ruth.
Programação e participação
O Circuito Maré Lançante tem início oficial no dia 25 de julho, com a vernissage de abertura no Gueto Hub. No dia 24, a equipe realiza uma mobilização interna com os voluntários, finalizando os detalhes e preparando o circuito.
Nas semanas seguintes, a exposição circulará por escolas, ruas, praças e espaços simbólicos do Jurunas, com datas e locais sendo divulgados pelo Instagram do Museu D’Água (https://www.instagram.com/museudagua/).
“Não é necessário inscrição. Basta chegar com disposição para ouvir, partilhar e reconhecer o Jurunas como um território de potência e história viva”, convida Ruth Ferreira.
O Circuito Maré Lançante é uma realização do Museu D’Água com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS).
O Museu D’Água
O Museu D’Água busca preservar a memória cultural, histórica e artística do chamado “Distrito D’Água”, região periférica da zona sul de Belém ligada ao Rio Guamá, mais especificamente do bairro do Jurunas. O projeto inclui o acervo “Olhos D’Água”, formado por fotos doadas por moradores, e a construção de uma coleção de arte contemporânea com foco na memória, identidade e cultura das periferias brasileiras. Além disso, o museu desenvolve atividades educativas, oficinas, entrevistas com moradores e exposições de arte, promovendo diálogo e valorização das histórias locais.


















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