EP “Belém é de Lua” consolida nova fase de MC Believe
- blognewschristian
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O cantor, compositor e performer trans MC Believe, nascido no bairro do Telégrafo, em Belém do Pará, acaba de lançar nas redes e plataformas digitais seu novo EP, “Belém é de Lua”. O trabalho destaca o amadurecimento e a afirmação política da trajetória do artista, que há mais de uma década constrói, a partir da periferia, uma obra que mistura ritmos amazônicos, sonoridades urbanas e narrativas afetivas.
Financiado pelo edital 004/2024 de Multilinguagens da Prefeitura de Belém, por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), o EP “Belém é de Lua” foi desenvolvido em parceria com a Associação Sociocultural Outros Nativos (Ason) e o selo Uka Uka Records, reafirmando o compromisso de MC Believe com uma arte coletiva, colaborativa e conectada às demandas sociais de seu território.

Além da faixa-título, que é um carimbó contemporâneo, o EP apresenta outras músicas que mostram a amplitude estética e a ousadia de MC Believe em transitar por diferentes gêneros da música popular. “Vem Amor”, por exemplo, traz uma fusão de pagode com elementos de axé. Já “Estraga Casamento” é um tecnomelody vibrante em que o artista se arrisca em um registro vocal mais alto.
E uma curiosidade típica da efervescência que essa cena periférica vive atualmente: MC Cika, também conhecida como Cika na Voz, vazou uma música do repertório! Isso mesmo! Juntos, MC Believe e Cika compuseram uma faixa que se tornou um dos maiores sucessos recentes nas plataformas digitais TikTok e Instagram.
Como na relação entre Anitta e a MC Melody recentemente divulgada nas redes sociais, Believe abriu espaço em seu EP para Cika, ex-dançarina de seu balé. Mas Cika vazou a música “Rock Doido do Pará” nas redes sociais. A música foi sugestão de Cika que trouxe os arranjos na cabeça e a sugestiva estrofe que diz: “As paraenses têm o molho do tucupi no corpo todo, se o carioca provar, ele vai querer de novo, se o paulista provar ele vai querer de novo. E pode vir sem medo que esse molho é oi ano todo!”.
MC Believe arrematou com um refrão grudento ao estilo do “rock doido” do Pará. E ambos finalizaram a música nos estúdios da Ason com Otávio Silvia e Nicobates. Depois do vazamento, a faixa ganhou rapidamente coreografia no Tik Tok e adesão do público. Após o que, uma DJ famosa se interessou pela proposta e topou fazer um remix da música, mudando o título para “As Paraenses Têm o Molho” e sem dar os créditos à Otávio e à Ason.
“A versão já ganhou até clipe. Eu mesmo participei”, explica Believe depois que o diretor artístico, Nicobates, procurou Cika para explicar o lançamento “extraoficial”. “No afã de ver a minha música fazer sucesso eu propus à Meury uma parceria, mas a gente tá junto com Believe e a Ason também na mesma faixa, vamos corrigir o nome da faixa por uma questão de direitos autorais, mas é uma produção colaborativa. Estamos aqui para somar”, explica Cika. “Agora vamos juntar todo mundo e fazer um grande show”, sugere Nicobates.
“Égua, verdade, esse rio é minha rua!”
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O EP “Belém é de Lua” apresenta quatro faixas que sintetizam a versatilidade de MC Believe e seu compromisso com uma arte que dialoga com o território, com as lutas sociais e com a cultura popular amazônica.
A faixa-título, “Belém é de Lua”, traduz isso. Não à toa ela saiu antes como single e já está disponível com videoclipe nas redes e plataformas. É um carimbó contemporâneo composto em parceria com Álvaro Júnior e Nicobates, com participação especial de Thaís Badu.
A canção foi criada no contexto das discussões da COP30, e fala sobre as belezas da cidade, as contradições da Amazônia urbana e os impactos das mudanças climáticas sobre a população mais vulnerável.
Na letra e na estética do clipe, “Belém é de Lua” combina celebração e crítica: de um lado, exalta a potência cultural belenense; de outro, aponta para a ausência de justiça social.
O clipe foi gravado em dois cenários emblemáticos da capital paraense: o Ver-o-Peso, um dos cartões-postais mais conhecidos de Belém, e a Praça Dorothy Stang, próxima ao Parque da Residência. A escolha da praça — que, mesmo durante a COP30, permaneceu em situação de abandono — é uma crítica social. “Disseram que iam fechar a Praça na segunda-feira, no domingo corremos para gravar o clipe. Graças às mobilizações a Praça continua acessível à população, vamos continuar lutando por políticas socioculturais”, explica MC Believe.
Processo criativo - “Belém é de Lua” é resultado de um processo de produção e criação desenvolvido em metodologia colaborativa dentro da Associação Sociocultural Outros Nativos (Ason). O projeto reuniu compositores, produtores, artistas e intérpretes em um verdadeiro laboratório de experimentação, no qual as trocas entre MC Believe, o diretor artístico Nicobates, o compositor Álvaro Júnior e a cantora Thaís Badu foram fundamentais para o resultado final.
O lançamento do EP dialoga diretamente com a realização da COP30 na capital paraense. A obra insere MC Believe no centro do debate sobre quem tem voz quando se fala de Amazônia. Ao misturar carimbó contemporâneo, funk, tecnomelody e pagode, o EP afirma que a Amazônia urbana também é Amazônia — com seus problemas de mobilidade, habitação, saneamento, violência e racismo — e que artistas trans, periféricos e LGBTQIA+ são parte indispensável dessa narrativa.
O trabalho consolida uma nova fase na carreira de MC Believe, que vem de um percurso iniciado ainda na adolescência, atravessando mudanças de nome, identidades e contextos, sem abrir mão da sua raiz e da sua autonomia criativa.
Disponível agora nas principais plataformas de streaming e nas redes sociais, “Belém é de Lua” é, ao mesmo tempo, uma carta de amor à cidade e um manifesto político — uma declaração de que a lua que ilumina Belém também brilha sobre as quebradas, sobre os corpos trans, sobre as juventudes que insistem em existir, criar e dançar, mesmo em meio às tempestades climáticas e sociais.
Trajetória - MC Believe começou a cantar aos 12 anos e, aos 14, já se apresentava em casas e festas nas periferias de Belém. Em 2014, gravou mas não lançou o poderia ter sido seu primeiro álbum independente, ainda sob o nome artístico Brenda Believe. Aos 25 anos, o artista iniciou seu processo de transição de gênero e passou a adotar o nome social Brendhon, adotando o nome artístico MC Believe como um símbolo de continuidade de sua história — uma arte que transita entre gêneros, fronteiras e linguagens. Sua música mistura funk, arrocha, carimbó, reggae e pop periférico, espelhando a força da juventude amazônica LGBTQIA+. Em 2023, MC Believe lançou seu primeiro EP oficial pelo selo Uka Uka Records, consolidando uma parceria que se aprofunda agora com o lançamento de “Belém é de Lua”.
SERVIÇO:
EP “Belém é de Lua”, de MC Believe
Disponível em todas as plataformas digitais.
Informações e entrevistas: (91) 98168 7474
@mcbelieveoficial
@outrosnativos


















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