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Exposição reúne 11 artistas da região e apresenta as cidades da floresta como territórios de luta, afeto e festa

A Amazônia pulsa muito além do que o mundo insiste em enxergar. Entre diagnósticos da emergência climática, disputas geopolíticas e discursos sobre “salvar o planeta”, existe um cotidiano que sustenta este território e que raramente ganha espaço: a molecada tomando banho de rio, o brega ecoando nas mesas de bar da periferia, a avó beijando a testa do neto no quintal, o corre do trabalho, o riso, o abraço, a amizade, a festa que também é luta. Em vez de molduras simbólicas, como guardiões, vítimas e mitos, quem aparece aqui é a vida real, potente, contraditória e cheia de invenção.


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É nesse terreno vivo e contraditório que nasce “Daquilo que aqui coexiste”, exposição coletiva com curadoria de Éder Oliveira, que abre nesta terça-feira, 18 de novembro, na Casa Dourada, o centro cultural permanente criado pelo Festival Psica na Cidade Velha.

Partindo de Belém como microcosmo da vastidão amazônica, Éder reúne 11 jovens artistas que traduzem, cada um à sua maneira, o embate e o encanto entre cidade, identidade e sobrevivência. Participam da exposição Beatriz Paiva, Carla Duncan, Chico Ribeiro, Dias Junior, Diego Azevedo, Matheus Duarte, Nayara Jinknss, Nazas, Petchó Silveira, PV Dias e Roma Rio. 

Pintura, fotografia e vídeo se encontram em um mosaico que atravessa periferias, quintais, encruzilhadas e gestos íntimos. O resultado é um mapa sensível de um território disputado, mas também celebrado por quem o habita.

Em plena programação da Casa Dourada para a COP30, quando a Amazônia é atravessada por debates globais sobre clima e futuro, a mostra insere a arte amazônica na conversa a partir da cidade e de quem a ocupa. “A arte tem grande importância nas discussões climáticas ao somar com seu olhar sobre a contemporaneidade. Muito se fala sobre a Amazônia floresta e rios, mas é preciso pensar também a ocupação desse território e esses trabalhos nos trazem um pouco desse tema”, afirma Éder.Para ele, os artistas lançam luz sobre pessoas e contextos que quase nunca aparecem no centro das decisões, mas que ajudam a apontar caminhos. “Primando pelo olhar crítico, os artistas mostram pessoas e contextos que não têm, individualmente, poder de decisão sobre questões climáticas, mas que como parte do todo demonstram como as relações sociais podem influenciar no futuro desse bioma e, de alguma forma, do planeta.”


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“Quando se fala em Amazônia, quase sempre nos colocam apenas como cenário da floresta. Nesta mostra me interessava trazer a cidade para o centro, com seus corpos, conflitos e desejos. É nesse território urbano que a gente entende o que significa existir e resistir aqui”, diz Éder Oliveira.

Na mostra, as obras oscilam entre signos coletivos e mundos privados e constroem, juntas, uma espécie de cartografia de afetos e tensões. Essa narrativa aparece tanto nas cenas públicas, quanto nos ambientes domésticos. “Mesmo com a diversidade que vai do público, como os trabalhos de Carla Duncan, ao privado, como na instalação da Roma Rio, é muito evidente a vinculação estética com o local, com a relação urbana amazônica. Assim, a abordagem do cotidiano na exposição se passa não só por mostrar a periferia de forma direta, mas também na simplicidade do ambiente íntimo, como na obra de Diego Azevedo em que crianças se amontoam no sofá, provavelmente em frente à televisão”, completa.

Cultura em defesa da Amazônia

A abertura da mostra integra a programação especial da Casa Dourada para a COP30, que transforma o casarão histórico em um polo independente de pensamento crítico, criatividade e mobilização. Até 20 de novembro, mais de 30 atividades reúnem lideranças indígenas, quilombolas, ribeirinhas, juventudes urbanas, pesquisadores, artistas e coletivos periféricos para discutir justiça climática, bioeconomia, cidades, ancestralidade, dados, inovação e sociobioeconomia.

O espaço é sede do recém-lançado Instituto Psica e foi idealizado com a consultoria Impact Beyond, com apoio financeiro do Instituto HEINEKEN, Open Society Foundations e World Climate Foundation. A casa terá capacidade para receber mais de mil pessoas por dia, com programações que conectam cultura, clima, juventudes, inovação, sociobioeconomia e justiça social.

“A Casa Dourada não é uma casa para a COP, é uma casa para a Amazônia”, resume Jeft Dias, diretor do Instituto Psica. “É um lugar onde saberes ancestrais encontram futuros possíveis, onde cultura e clima deixam de ser campos separados para virar estratégia comum de disputa e imaginação”.

Além de “Daquilo que aqui Coexiste”, o espaço recebe outras três exposições: Realidade Aumentada, de Gruta de Kamukuwaká; Jogo Murukutu — a floresta corpo-território, criado pela Salve Games; Caruru — Ecos e Saberes dos Territórios Guianenses, por artistas da Guiana.

A programação diária inclui rodas de conversa, painéis, oficinas, mostra audiovisual, apresentações culturais, jantares e encontros de articulação com organizações nacionais e internacionais.


Serviço — Abertura

Daquilo que aqui Coexiste Curadoria: Éder Oliveira 

Abertura: 18 de novembro (terça-feira), às 20h 

Local: Casa Dourada, na Rua Dr Malcher, 15, ao lado da Igreja da Sé, na Cidade Velha 

Visitação: até 31/01/2026, das 9h às 19h

Programação do dia 18/11: • 15h30–16h30 | Roda de Conversa — lançamento do minidoc O Desafio dos Bumbás • 17h–18h | Roda de Conversa JacundayLab — Tecnologias ancestrais quilombolas frente à crise climática • 18h30–20h | Cultura Ballroom: Saberes Ancestrais Amazônicos + JAM Ballroom • 20h–21h | JAM Psica na Casa Dourada

 
 
 

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