I Mostra Artística “ Filhos de Iracema: artistas de terreiro” é neste domingo (18), em Belém
O Coletivo Filhos de Iracema, coletivo artístico que nasceu dentro do espaço da casa de Mina Nagô T.E.U.C.Y, mais uma vez traz à cidade de Belém seus resultados artísticos com programação gratuita.
A primeira Mostra Filhos de Iracema: artistas de terreiro reúne dois trabalhos autorais viabilizados com incentivos culturais do Governo do Estado do Pará. Através do edital PREAMAR/SECULT, foi produzida a série POROROCAS e do edital de Incentivo à Cultura, da Fundação Cultural do Pará, o disco “Mãe Rita D’Oxum: sabedoria cantada”. Ambos serão exibidos em noite de celebração e compartilhamento no Teatro Universitário Cláudio Barradas.
Para sua realização, a Mostra conta também com apoio da Escola de Teatro e Dança da UFPA, através do teatro Cláudio Barradas e também com alunos da escola que participaram artisticamente dos dois projetos. O professor da Escola e integrante do Coletivo do Filhos de Iracema, Thales Branche, fala da importância desse tipo de iniciativa: “Quando a Universidade abre suas as portas para a apresentação de arte produzida numa comunidade de terreiro, ela colabora na promoção do acesso e difusão qualificada das culturas afro-brasileiras. É um necessário contra-golpe no racismo ainda tão presente em nossa sociedade.”.

Mostra “Filhos de Iracema: artistas de terreiro”
Serão apresentados trabalhos em duas linhas artísticas desenvolvidas pelo Coletivo: a música e o audiovisual. Na Mostra será lançado o disco “Mãe Rita D`Oxum: Sabedoria Cantada” e a série em três episódios “POROROCAS”.
POROROCAS é a primeira ficção produzida pelo coletivo, com direção da atriz paraense Luiza Braga, que também atua em um dos episódios. O projeto se debruça sobre as mitologias das três princesas turcas encantadas: Mariana, Herondina e Jarina.
A série tem como proposta a criação de um registro audiovisual, em formato poético, de histórias reais de mulheres amazônicas que, em suas vivências cotidianas, foram amparadas e se reconheceram no enredo mítico das três caboclas turcas. Cada episódio narra de forma ficcional, histórias reais, colhidas em depoimentos de mulheres da comunidade de mina nagô T.E.U.C.Y, e como cada uma delas pôde transformar sua própria narrativa a partir dos saberes e mitologias da encantaria, representada aqui pelas três irmãs turcas.

A encantaria é um saber que transcende quaisquer espaços rituais e se apresenta no cotidiano da vida amazônica. As ervas, o respeito às águas, às horas, a transculturação entre os saberes indígenas, populares e negros. Tudo isso é encantaria!
“O que retratamos aqui é a saga de três mulheres amazônicas, em suas vidas cotidianas e os desafios impostos pela condição seja de mulher periférica na grande cidade, seja de mãe ribeirinha. E como as mitologias que envolvem as encantarias amazônicas são também pilares de sustentação de identidade e de reconhecimento. Portanto, fontes amplificadoras capazes de transformar realidadse.”, diz a diretora Luiza Braga.
Já o disco “Mãe Rita D’Oxum: sabedoria cantada” reúne um grupo de sete canções pela primeira vez registradas.. Todo o repertório é de autoria de Mãe Rita D’Oxum, voz principal do disco e que recebeu os cantos por meio da mediunidade ao longo dos seus mais de 20 anos como sacerdotisa do Tambor de Mina. “É o álbum de estreia de uma mãe de santo de Oxum. Mãe Rita traz sabedoria, vigor e doçura em sua voz. Navegando por diversas correntes da espiritualidade afro em cantos que Mãe Rita recebeu de seus guias, o álbum é uma festa e uma oração partilhada. Uma bela oportunidade de conhecer a beleza e a profundeza da música de terreiro. Em tempos difíceis é uma urgência poética e política!” afirma o diretor musical do álbum, Thales Branche, também responsável pelos arranjos. O disco foi todo gravado do Estúdio Casa Rec e tem produção musical de Armando de Mendonça F.

A primeira Mostra “Filhos de Iracema: artistas de terreiro” fortalece o necessário investimento na produção de material e divulgação de informação sobre as mitologias, cosmovisões e histórias de vida relacionadas aos guardiões das culturas tradicionais na Amazônia. Destacando-se o recorte estabelecido no contexto dos povos de terreiro, é importante reconhecer que tais culturas tradicionais se manifestam e são transmitidas essencialmente por meio da oralidade, daí a escolha da criação de um disco e um produto audiovisual como forma artística capaz de registrar e traduzir a potência desses saberes historicamente marginalizados pelo processo hegemônico.
Quem são os Filhos de Iracema?
Um coletivo que reúne artistas paraenses como músicos, atores, performers e artistas do audiovisual, ao lado da gente de terreiro em seus saberes. A união se deu trazendo as pesquisas pessoais de cada um para desenvolver projetos artísticos a partir da tradição das casas de tambor de Mina e Pajelança amazônicas.
Do ponto de vista poético, o coletivo ocupa-se da produção de objetos e ações culturais que tomam como base referências estéticas advindas de culturas de matrizes afro-ameríndias, especialmente no que tange ao que se pode reconhecer como inventário mitológico de povos banto e iourubá, bem como das pajelanças e encantarias amazônicas. Do ponto de vista ético e político, a vivência de terreiro é potencializada como fonte de saberes e fazeres historicamente marginalizados que demandam divulgação e reconhecimento público no contexto da luta antirracista. Ainda numa terceira perspectiva, o coletivo “Filhos de Iracema” também está interessado na fronteira entre espiritualidade e uma visão de saúde integral em que as tradições afro-ameríndias apontam para a possibilidade de uma produção cultural amorosa e revolucionária, centrada na cura de si e do mundo.
Por onde já passaram os Filhos de Iracema?
O Coletivo já realizou o documentário “Mariana: histórias de vida e encantaria”, hoje com mais de 50 mil visualizações no canal do youtube, lançaram a live/show “O Sagrado Caminho da Lua”, patrocinada pela FADESP, através de edital de incentivo à produção artística e a partir de referências da cultura Afro; realizou a roda de conversas “Encantaria: um começo de conversa”, com patrocínio do SESC/Pará e a videoperformance “Do ventre à cabeça”, patrocinada também pelo SESC/Pará.
Contato:
Luiza Braga (integrante e produtora do coletivo Filhos de Iracema) – 11 958689244
SERVIÇO Data: 18/06
Local: Teatro Universitário Cláudio Barradas
Horário: 19h30