Pesquisadora lança livro sobre juventudes e comunicação na cena urbana amazônica
A professora e pesquisadora Rosaly Brito lança nesta quarta-feira, 30 de agosto, às 15 horas, no
auditório do Programa de Pós-graduação em Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará
(PPGCOM UFPA), o livro “Juventudes e Comunicação na Cena Urbana: Desigualdades,
Intersubjetividades e Representações Midiáticas”. O lançamento ocorrerá na abertura do segundo
semestre do Programa de Pós-graduação em Cultura e Amazônia (PPGCOM) da Universidade Federal
do Pará e o debate será mediado pela professora e pesquisadora Rosane Steinbrenner.
Rosaly Brito é professora vinculada ao Ppgcom e à Faculdade de Comunicação da UFPA. A
autora conta que todo o seu percurso acadêmico como estudante do curso de Jornalismo da UFPA foi
vivido durante a ditadura civil-militar brasileira do pós-64, o que marcou profundamente sua juventude
e, bem mais tarde, foi uma das motivações, para investigar algumas das principais questões que
marcam e atravessam o cotidiano dos jovens na época contemporânea, em especial no contexto da
Amazônia Legal.

Esse foi o tema de sua pesquisa de doutorado em Ciências Sociais/Antropologia, defendida em
2014, agora publicada em livro pela Pontes Editores (Campinas/São Paulo), com apoio do Programa de
Apoio à Pós-Graduação (PROAP) da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior
(Capes).
Segundo a pesquisadora, “o que vivi e a forma como vivi na época de minha juventude serve de
ancoragem e ponto de partida para a pesquisa que deu origem ao que o leitor encontrará nesta obra”.
Outra fonte primordial de interesse para a pesquisa, de acordo com ela, foi o convívio com seus alunos
em mais de três décadas de docência na UFPA.
Por meio do diálogo entre a comunicação e a antropologia, a pesquisa buscou compreender que
articulações é possível fazer atualmente entre juventudes, formas de significar o mundo, dinâmicas de
sociabilidade, identitárias e de autorreconhecimento, representações midiáticas e como estas são postas
em xeque ou negociadas por jovens de diferentes camadas sociais na Região Metropolitana de Belém.

Para isso, Rosaly Brito entrevistou, em profundidade, em uma pesquisa de inspiração
etnográfica, 16 jovens de 13 bairros da Região Metropolitana de Belém, sendo eles Batista Campos,
Umarizal, São Braz, Pedreira, Marco, Cremação, Barreiro, Terra Firme, Canudos, Cabanagem, Benguí,
Marambaia e Fátima, além do município de Marituba. Os temas abordados incluíram projetos pessoais
e coletivos, interações nas redes sociais, representações midiáticas, relações familiares, educação,
trabalho, percepções sobre a política e a realidade da violência urbana.
O estudo, segundo a pesquisadora, partiu da hipótese de que “as imagens da juventude
construídas nos espaços midiáticos tendem a homogeneizar gostos, experiências, problemas e
expectativas de um grupo diverso e desigual de pessoas. “Esse olhar negligencia as múltiplas
circunstâncias individuais e as hierarquias sociais que permeiam a vida das populações jovens em
Belém e demais cidades do país, constituindo um espelho muitas vezes deformado de projeção das
identidades juvenis, num cenário em que prevalecem as ideologias individualistas e o hedonismo”,
destaca. A pesquisa mostra que as juventudes são bem mais complexas e humanizadas do que aquelas
que nos são mostradas cotidianamente nos meios de comunicação e em outras searas discursivas.
Como assinala no prefácio do livro a antropóloga Regina Novaes, uma das mais reconhecidas
pesquisadoras do país sobre o tema das juventudes, as imagens que circulam atualmente na sociedade
brasileira sobre jovens, favorecem generalizações e encobrem diferenças. Ao mesmo tempo em que se
ampliou a idealização da juventude como “fase da vida”, já que ser/parecer jovem se tornou um valor na
sociedade de consumo e na era do capitalismo flexível, de outro lado, de forma aparentemente
paradoxal, “ser jovem é ser suspeito”, já que “as imagens de jovens transitam também entre
criminalizações. Intervenções violentas de forças policiais têm resultado no extermínio sistemático de
jovens, sobretudo negros nas favelas e periferias urbanas”, finaliza Novaes.
Texto: Janaina Amorim – Foto: Alexandre de Morais