Ópera inédita de Paulo Coelho, Gilberto Gil e Aldo Brizzi tem estreia mundial no XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz
- blognewschristian
- 23 de out.
- 9 min de leitura
A ópera I-Juca Pirama, com libreto de Paulo Coelho e composição musical de
Gilberto Gil e Aldo Brizzi, terá sua estreia mundial no Theatro da Paz, em Belém
do Pará, nos dias 10, 11 e 12 de novembro, encerrando em grande estilo a
programação do XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, no mesmo período
em que a capital paraense recebe a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (COP30).
Com 75 minutos de duração, a obra inspirada no poema de Gonçalves Dias reúne
cantores líricos e artistas do Núcleo de Ópera da Bahia (NOP), o Coro Carlos
Gomes de Belém, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz e o grupo indígena
Huni kuin (Acre).

A produção ecopoética propõe uma narrativa filosófica e sensorial sobre o
universo indígena da Amazônia, entrelaçando literatura, música, ancestralidade,
ecologia, coexistência e espiritualidade. Cantada em língua portuguesa, a ópera
articula música, canto, dança, projeções audiovisuais e rituais de matriz indígena,
traduzindo o encontro entre a tradição lírica e a sabedoria ancestral dos povos da
floresta.
O espetáculo é uma realização do Núcleo de Ópera da Bahia, em co-realização
do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), com
produção da ComArte Produções, apoio do programa Boca de Brasa, da
Fundação Gregório de Mattos e da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura
de Salvador. Também conta com o apoio de mídia televisiva da France
Télévisions.
“A obra vai revolucionar a ópera brasileira, com um trabalho magnífico de Aldo
Brizzi e Gilberto Gil”, emociona-se Paulo Coelho.
Para Ursula Vidal, secretária de Cultura do Pará, a estreia mundial de I-Juca
Pirama no palco do Theatro da Paz reafirma a grandeza do Festival de Ópera.
“Nosso Festival se consolidou, em 2025, como uma política pública de cultura que
diversifica suas parcerias institucionais, co-realizando grandes espetáculos com
outros importantes núcleos de produção operística do país. A ampliação do
repertório de montagens, com estreias mundiais de obras inspiradas no
riquíssimo universo simbólico de nossa Amazônia, reafirma a grandeza deste
Festival realizado há mais de duas décadas em um teatro monumento da cultura
brasileira”, destaca a secretária.
Todos os figurinos da ópera são eco sustentáveis e assinados por dois artistas: o
xamã e artista plástico Tukano Bu’ú Kennedy, responsável pelos trajes indígenas,
e a figurinista Irma Ferreira, autora dos figurinos modernos e dos adereços. As
criações foram produzidas por artesãos e coletivos indígenas da Amazônia, a
partir de materiais sustentáveis, fibras, pigmentos naturais e técnicas tradicionais.
“Os figurinos são concebidos por Bu’ú Kennedy, xamã tucano e grande artista
plástico. Ele criou uma série de trajes feitos com casca de árvore, mastigada
ritualmente durante três dias pelas mulheres tucanas antes de se transformar em
tecido. Já as vestes masculinas são cortiças de árvores amazônicas, que voltam a
crescer após o corte. É uma operação totalmente ecológica, que resgata a
criatividade dos povos da Amazônia e valoriza sua presença na criação artística”,
explica Aldo Brizzi, diretor musical e cênico da ópera.
O maestro destaca ainda que seis indígenas do povo Huni kuin, do Acre, estarão
em cena ao lado dos cantores líricos do NOP e do Coro Carlos Gomes, de Belém.
“Essa convivência cria uma dimensão simbólica e real entre o erudito e o
ancestral, unindo vozes que expressam a floresta em sua força espiritual e
estética”, e continua falando que a parceria com Gilberto Gil dá origem a uma
obra musical que reflete múltiplas matrizes culturais brasileiras. “A estética
musical dessa ópera segue a linha que já trabalhamos em Amor Azul, eu e Gil, ou
em obras minhas como a Ópera dos Terreiros. É uma fusão total entre elementos
da cultura afro, afro-brasileira, indígena e erudita. A melodia e a harmonia vêm um
pouco da música popular, porque é um trabalho feito a quatro mãos com o Gil.
Tudo flui naturalmente entre a rítmica indígena e a linguagem sinfônica, com o
DNA da música popular sempre presente de forma comovente e radical”, destaca
Brizzi.
O compositor ressalta que o texto de Gonçalves Dias foi determinante para o
ritmo e o caráter da obra. “A força da palavra de Gonçalves Dias é extraordinária.
Ela traz uma musicalidade própria, com termos que hoje soam incomuns, mas
cheios de sentido. Nossa ópera se passa em duas épocas — a antiga, narrada
por Gonçalves Dias, e a moderna, contada por nós. O I-Juca contemporâneo
revive a busca por identidade em meio à destruição. Essa convivência entre o
antigo e o novo dá à obra uma dimensão simbólica de continuidade e
transformação.”
Para Brizzi, o Núcleo de Ópera da Bahia reafirma sua vocação de aproximar a
ópera das raízes culturais brasileiras. “O NOP sempre deu grande relevância à
cultura de raiz. Nossas óperas são em português e querem comunicar. Não é
ópera intelectual, é ópera popular no verdadeiro sentido do termo. A ópera
sempre foi a arte do seu tempo — popular e profunda. Queremos ser modernos e
criativos, com respeito às raízes, para que todos possam se emocionar e se
reconhecer no que fazemos”.
Os desafios de unir o canto lírico às tradições indígenas fazem parte da trajetória
de Aldo Brizzi. Em Amor Azul, ele e Gilberto Gil uniram o DNA da música popular
brasileira à grande respiração da música sinfônica; em Ópera dos Terreiros,
aproximaram o Candomblé da eletrônica e do canto lírico. Em I-Juca Pirama, a
orquestra e o coro se unem à rítmica e à tímbrica dos instrumentos indígenas,
criando uma cor sonora única e profundamente simbólica.
A obra nasce do diálogo entre arte, ecologia e consciência ambiental. A floresta
está presente em cada gesto, som e material de cena, fazendo da ópera uma
verdadeira celebração da Amazônia e de sua sabedoria ancestral.
Considerada por Paulo Coelho como um trabalho capaz de revolucionar a ópera
brasileira, a produção inicia com um prólogo em vídeo-projeção gravado na
Amazônia, com Gilberto Gil no papel de Croá, o trovador dos povos originários,
cantando uma música inédita sobre as queimadas, e o próprio Paulo Coelho
interpretando Gonçalves Dias, que se transforma em Espírito da Terra.
A escolha de Belém e do Theatro da Paz para a estreia mundial de I-Juca Pirama
reforça o simbolismo amazônico da obra e a tradição da cidade como polo
operístico do país. O teatro, um dos mais antigos e importantes do Brasil, tem
sido palco de grandes criações do Núcleo de Ópera da Bahia e consolida-se
como espaço de encontro entre linguagens, culturas e territórios sonoros. “Se
apresentar no Theatro da Paz é sempre um prazer. Em 2022, já estivemos aqui
com a Ópera dos Terreiros, no Festival de Ópera, e foi uma experiência marcante.
Desta vez, voltamos para vibrar junto com aquela acústica maravilhosa e com o
público paraense, que sempre acolhe a criação operística com generosidade e
emoção”, conclui Brizzi.
A renda da estreia será totalmente revertida em apoio ao povo indígena da Vila
Dom Bosco, no Alto Rio Tiquié, distrito de Pari Cachoeira, região do Alto Rio
Negro. A iniciativa busca valorizar a educação intercultural e preservar o legado
das línguas e saberes ancestrais.
SINOPSE
Após ter suas terras devastadas pelos colonos portugueses, o jovem guerreiro I-
Juca Pirama, último de sua tribo, parte em busca de novos territórios e de um
sentido para sua existência.
Capturado pelos Timbiras, é condenado ao sacrifício, mas sua coragem e
dignidade transformam seus algozes.
Entre o dever do guerreiro e o chamado da vida, I-Juca enfrenta o conflito entre
honra e sobrevivência.
Na ópera, a história se desenrola entre duas épocas — a antiga, contada por
Gonçalves Dias, e a moderna, em que novas queimadas e devastações fazem o
I-Juca contemporâneo reviver a busca por significado e pertencimento.
Sua jornada reflete o destino de um povo em exílio na sua própria terra e o grito
da floresta ferida.
Em uma dimensão paralela, o Espírito da Terra tudo vê, prevê, narra e abraça.
Entre os dois tempos da história, ela é a guardiã da memória e da transformação.
Jaci, jovem Timbira frágil e encantada por I-Juca no tempo ancestral, renasce na
era moderna como sua própria descendente, jornalista que entrevista o “I-Juca”
contemporâneo nas terras devastadas pelas queimadas.
Mas um antídoto poderoso resiste ao avanço da destruição: a força dos sonhos e
a técnica ancestral de torná-los realidade.
Assim, o mito renasce no presente, lembrando que a terra, mesmo ferida,
continua a sonhar através de seus filhos.
BIOGRAFIAS
Paulo Coelho – Autor do texto original
Reconhecido mundialmente, Paulo Coelho é um dos escritores mais lidos de
todos os tempos, com mais de 320 milhões de livros vendidos em 170 países e
traduzido para 88 idiomas. É membro da Academia Brasileira de Letras e
Embaixador da Paz das Nações Unidas. Pela primeira vez, assina um texto
original para o palco, ampliando sua obra para a linguagem cênica e musical.
Gilberto Gil – Compositor
Músico, compositor e intelectual, Gilberto Gil foi Ministro da Cultura do Brasil, é
membro da Academia Brasileira de Letras e vencedor de múltiplos prêmios
internacionais, incluindo Grammys e a Legião de Honra da França.
Sua obra é um patrimônio da música brasileira, mesclando raízes populares com
inovação estética.
Aldo Brizzi – Diretor musical e coautor da composição
Maestro, compositor e produtor ítalo-brasileiro, Aldo Brizzi já regeu as mais
importantes orquestras na Europa e nas Américas. Autor de óperas como Amor
Azul e Ópera dos Terreiros, é diretor do Núcleo de Ópera da Bahia (NOP) e
reconhecido por integrar linguagens populares a tradição lírica, criando pontes
entre o erudito e o contemporâneo.
Núcleo de Ópera da Bahia (NOP)
Coletivo lírico com sede em Salvador, o NOP é um projeto de excelência na
formação e difusão da ópera brasileira, reunindo cantores, músicos e criadores
com ênfase em diversidade racial e de linguagem. É 90% composto por artistas
afro-brasileiros. Responsável por produções que mesclam tradição e inovação,
atua também na formação de público e em ações de inclusão social.
Bu’ú Kennedy – Figurinista e artista plástico
Artista Tukano do povo Ye’pá Mahsã, da região de São Gabriel da Cachoeira
(AM), Bu’ú Kennedy atua com pintura, instalação e figurino, destacando-se pelo
uso de materiais naturais e símbolos ancestrais. Sua produção artística baseia-se
na marchetaria, técnica de justaposição e encaixe de lâminas de madeiras
diferentes, que formam paisagens, motivos e símbolos.
Festival de Ópera do Theatro da Paz
Criado em 2002, o Festival de Ópera do Theatro da Paz é uma das mais
duradouras políticas públicas de formação de plateia do país. Realizado pelo
Governo do Pará, por da Secult, o festival tem como anfitriã a Orquestra Sinfônica
do Theatro da Paz — corpo artístico oficial do teatro, que completará 30 anos em
2026 — e se destaca por unir excelência musical, formação de público e
protagonismo amazônico.
Ao longo de mais de duas décadas, recebeu mais de quarenta montagens, entre
clássicos como La Traviata, Carmen, O Guarani e A Flauta Mágica, e estreias
nacionais e mundiais inspiradas na literatura e no imaginário da Amazônia.
Também desenvolve ações de inclusão, como o projeto Sons de Liberdade, que
promove a reinserção de mulheres custodiadas e egressas do sistema penal por
meio da confecção dos figurinos das montagens.
Em 2025, o XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz apresentou a estreia
mundial de Cobra Norato – Terras do Sem Fim, inspirada no poema de Raul
Bopp, com libreto de Bernardo Vilhena, música de André Abujamra, direção
artística de Carla Camurati e regência de Silvio Viegas; o concerto Tudo Isto é Teu
– Uma Celebração de Waldemar Henrique, em parceria com o Theatro Municipal
do Rio de Janeiro; e a Gala Lírica “A Ópera da Amazônia”, com a OSTP.
FICHA TÉCNICA (resumo)
Título: I-Juca Pirama
Subtítulo: Aquele que deve morrer
Texto: Paulo Coelho e Aldo Brizzi, livre recriação a partir do poema de Gonçalves
Dias
Música original: Gilberto Gil e Aldo Brizzi
Direção musical e cênica: Aldo Brizzi
Figurinos indígenas: Bu’ú Kennedy
Figurinos modernos e adereços: Irma Ferreira
Elenco:
I-Juca Pirama – Jean William
Espírito da Terra – Graça Reis
Cacique – Irma Ferreira
Jaci – Milla Franco
Ogib – Josehr Santos
Grupo vocal lírico-popular do Núcleo de Ópera da Bahia
Grupo indígena do Povo Huni kuin (Acre)
Coro Carlos Gomes de Belém
Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz
Maestro: Aldo Brizzi
Participações especiais: Gilberto Gil e Paulo Coelho (projeções audiovisuais)
Duração: 75 minutos
Realização: Núcleo de Ópera da Bahia
Co-realização: Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura
(Secult)
Produção: ComArte Produções
SERVIÇO:
I-JUCA PIRAMA – Aquele que deve morrer
Estreia mundial
Ópera inspirada na obra poética de Gonçalves Dias, em língua portuguesa,
dividida em dois atos
Libreto de Paulo Coelho, composição musical de Gilberto Gil e Aldo Brizzi
Data: 10, 11 e 12 de novembro
Horário: 20h
Local: Theatro da Paz
Praça da República | Rua da Paz, s/n, Centro
Belém – PA
Valores dos ingressos:
Plateia, varanda, frisas e camarotes de primeira ordem: R$80 • Inteira | R$40 •
Meia
Camarotes de segunda ordem: R$80 • Inteira | R$40 • Meia
Galeria: R$60 • Inteira | R$30 • Meia
Paraíso: R$40 • Inteira | R$20 • Meia
Serviço:
O espetáculo estreia no dia 10 de novembro e terá ainda mais duas récitas nos
dias 11 e 12 de novembro, às 20h. Os ingressos já estão à venda na bilheteria do
TP e por meio do site: www.ticketfacil.com.br. Dúvidas e informações sobre venda
de ingressos: (91) 3252-8603. E-mail: bilheteria@theatrodapaz.com .


















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